Tragédia

Cena é de desolação no Haragano, em Pelotas

Causas do incêndio permanecem desconhecidas; expectativa é de que os moradores registrem Boletins de Ocorrência para poder solicitar os seguros

Jô Folha -

O cenário é de desolação. Telhado consumido. Forro retorcido. Cinza por todos os lados, em meio a roupas, calçados e alimentos. Seis famílias do Condomínio Haragano, no Jardim Europa, tiveram as residências destruídas por um incêndio na noite de terça-feira (10), em Pelotas. Um sétimo imóvel também chegou a ser atingido, em menores proporções. Os moradores exigem mais do que solução para quem ficou sem moradia. A comunidade do Residencial - com 270 sobrados e dez casas térreas - clama pelas mesmas respostas há vários anos. Em um misto de silêncio e desamparo, eles têm visto crescer os problemas estruturais, que vão de repetidos episódios de curto-circuitos a rachaduras e infiltrações.

Na tarde desta quarta-feira, as famílias realizaram ato em frente à Justiça Federal, onde tramitam várias ações que poderiam forçar revisão e melhorias nas construções. Na prática, nada mudou, nem com as queixas escoando ao Judiciário. Agora, para piorar, os moradores temem o risco de desabamento dos sobrados. As causas das chamas seguem desconhecidas. Com a informação do Corpo de Bombeiros de que não havia indício de incêndio criminoso e sem o isolamento do local, a equipe do Instituto Geral de Perícias (IGP) não foi acionada. Até o final da tarde, a 2ª Delegacia de Polícia (DP) ainda não havia instaurado inquérito para apurar o caso.

A orientação é de que as famílias registrem Boletim de Ocorrência (BO) para poder acessar o seguro junto à Caixa Econômica Federal (CEF). O Diário Popular fez contato com a CEF, encaminhou e-mail - como o solicitado -, mas recebeu a confirmação de Curitiba, no Paraná, de que os esclarecimentos sobre o Residencial Haragano não seriam feitos a tempo, já que precisariam de prazo para checagem de dados.

Uma combinação de tristeza e indignação

A boneca de pano rosa segue pendurada à escada caracol. Impossível a decoração não ganhar destaque em meio a todos os tipos de resíduos. "É muito triste: a gente perder tudo em segundos, como um foguete", compara Mara Rejane Matias Silva, 52. O semblante era de incredulidade. Após aguardar cerca de dez anos para ser contemplada no programa Minha Casa, Minha Vida, a doméstica viu o fogo iniciado no sobrado da vizinha se alastrar e o sonho da casa própria se esvair. Passou mal. Precisou ser socorrida. Foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). "Agora é pensar em Deus e acreditar que ele vai nos dar em dobro".

Quem não teve a residência diretamente atingida, mas também vive no bloco J, procura conter o medo. Não só de pegar no sono e ser, novamente, acordada pelo pânico da vizinhança. Há receio de tragédias maiores, que não arrasem apenas com o patrimônio das famílias. "Vou dormir perto da porta e com a chave perto de mim", afirma Ângela Roberta Duarte da Rosa, 46. E relembra episódios da fiação do chuveiro em chamas e de fios derretendo no poste próximo à guarita. "Alguém tem que fazer alguma coisa. Ninguém nos protege", desabafa.

Saiba mais

- O que diz a prefeitura

* Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária: O secretário Ubirajara Leal explica que a participação da prefeitura se restringiu a dois pontos específicos: a seleção das 280 famílias que seriam beneficiadas e um trabalho social, inicial, para geração de trabalho e renda. Após a inauguração e o registro de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do condomínio, o contato dos moradores deve se direcionar à Caixa Federal, como agente financiador, e à construtora. Questionado sobre de que forma o governo poderia ter intercedido para resolver os problemas que têm sido reiteradamente relatados pela comunidade, Leal é objetivo. "É uma propriedade particular, uma estrutura privada, e o Município não vai entrar nesta seara".

* Secretaria de Assistência Social: Técnicos da Secretaria visitaram o Residencial e, à tarde, retornaram com doações de alimento, roupas, calçados e colchões. O secretário Luiz Eduardo Longaray, que também esteve no Haragano, esclarece que as famílias que preferirem podem ser abrigadas na Casa de Passagem, enquanto as residências são recuperadas.

- A posição da Construtora
A técnica construtiva, no estilo wood frame - através de camadas de madeira tratada, com isolamento acústico e térmico, revestidas com gesso acartonado e placas cimentícias -, chegou a render premiação do Sinduscon gaúcho. Quase cinco anos e meio após a entrega do Haragano, a Construtora Roberto Ferreira defende a qualidade da construção, mas ressalta que, na época, os moradores teriam sido orientados com material audiovisual sobre todos os cuidados que deveriam adotar para não sobrecarregar a rede de energia elétrica e até para colocação de quadros na parede.

Uso de aparelhos de ar-condicionado e freezers comerciais, por exemplo, não poderiam ser usados. Ampliações nos sobrados e "gatos" na rede também ajudariam a justificar a sobrecarga, mas ao mesmo tempo que destacam os dois tipos de situação, os representantes da Construtora argumentam não ter a intenção de responsabilizar os moradores pelo sinistro, já que as causas ainda são desconhecidas.

Ao falar com o DP na tarde desta quarta-feira, Ricardo Ferreira, Cláudio Azevedo e Thiago Rosa asseguraram que, por mais de uma vez, a construtora teria se deslocado ao Residencial para verificação das queixas dos moradores, mas o acesso da empresa ao Haragano teria passado a ser bloqueado. Uma ata notarial, de 17 de novembro de 2016, inclusive, oficializaria o impedimento às visitas.

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